Apesar de proibidos no Brasil pela Anvisa desde 2009, os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes ou pods, têm ganhado popularidade, sobretudo entre adolescentes e jovens adultos. A legislação vigente proíbe a comercialização, importação, fabricação, propaganda e transporte desses dispositivos e seus acessórios, mas a facilidade de acesso, principalmente pela internet, tem contribuído para o crescimento preocupante do uso.
Para se ter uma ideia, o número de usuários desses dispositivos cresceu 600% nos últimos seis anos, alcançando quase 3 milhões de consumidores com idades entre 18 e 64 anos.
Estudos já indicam que o uso de vapes entre adolescentes pode ser até cinco vezes maior do que o de cigarros tradicionais. Atraídos por sabores adocicados e pela falsa percepção de que esses dispositivos são menos nocivos, muitos jovens acabam se tornando dependentes rapidamente, como explica o pneumologista e professor do curso de Medicina do UniFOA, Dr. Gilmar Zonzin.
“A velocidade com que o cigarro eletrônico gera dependência nicotínica é muito maior do que a do cigarro convencional. Os jovens se tornam dependentes com muita facilidade e enfrentam enorme dificuldade para abandonar o uso”, alerta o especialista.
O uso de cigarros eletrônicos também já foi diretamente associado a casos graves de lesões pulmonares, como a EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico), que pode provocar insuficiência respiratória aguda, exigindo internação em UTI, uso de respiradores artificiais e, em alguns casos, levando à morte.
“É como uma roleta-russa: não se sabe quem, quando e com qual dispositivo alguém pode desenvolver um quadro pulmonar agudo gravíssimo. A associação entre vapes e essas lesões já é amplamente comprovada”, destaca o pneumologista.
Dr. Gilmar também chama atenção para os efeitos ainda desconhecidos a longo prazo, sobretudo entre adolescentes. Ainda que o tempo de uso seja relativamente recente em comparação ao cigarro convencional, já existem evidências do impacto negativo sobre os sistemas respiratório e cardiovascular.
“Inicialmente se pensava que o cigarro eletrônico poderia ser inofensivo, mas essa ideia já caiu por terra. Os dispositivos estão associados à dependência severa, à ansiedade e a uma série de prejuízos à saúde”, explica.
Outro ponto preocupante é o marketing agressivo voltado ao público jovem. Muitos acabam usando os vapes para se sentir parte de um grupo ou parecerem “modernos” e “descolados”, mas acabam aprisionados a um vício difícil de abandonar.
“Há jovens que, depois de um tempo, percebem o quanto estão presos ao uso do dispositivo. Muitos até querem parar, mas não conseguem. Criaram uma dependência brutal”, afirma Dr. Gilmar.
Sobre os sintomas associados ao uso dos cigarros eletrônicos, o médico destaca que a percepção da dependência, como a dificuldade em ficar sem usar o dispositivo, já é um sinal de alerta. Tosse persistente, cansaço, perda de rendimento físico e falta de ar também podem indicar comprometimento pulmonar.
“Nosso maior desafio hoje é libertar essas pessoas da dependência. Estamos diante de um problema de saúde pública que movimenta fortunas e envolve interesses econômicos poderosos. Precisamos de ações firmes dos órgãos reguladores para conter esse avanço.”
Enquanto o debate sobre regulamentação e fiscalização continua, a orientação dos especialistas é clara: não existe uso seguro de cigarro eletrônico. A falsa sensação de segurança pode ter consequências irreversíveis. Informação, conscientização e educação são as principais ferramentas para proteger as novas gerações dessa ameaça silenciosa.