A inclusão social ganhou novos contornos no âmbito da educação ambiental com a criação de um Roteiro para Visitas Guiadas em Língua Brasileira de Sinais (Libras), elaborado por estudantes do curso de Ciências Biológicas licenciatura do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA). O material, desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), reúne sinais específicos para todos os animais do Zoológico Municipal de Volta Redonda, oferecendo uma ferramenta inovadora de acessibilidade para visitantes surdos.
A iniciativa, conduzida pelos alunos Henrique de França Serafim, Luana Santos Miranda e Pedro Alonso Ferreira Moutinho, nasceu da união entre ciência, empatia e compromisso com a democratização do conhecimento. Mais do que um projeto acadêmico, trata-se de uma proposta que ressignifica a visita ao zoológico enquanto experiência educativa e inclusiva.
“O roteiro para visitas guiadas nasceu do desejo de tornar o zoológico um espaço acessível a todos, especialmente ao público surdo, que muitas vezes encontra barreiras para compreender as informações expostas durante a visitação”, explicou Luana, durante a gravação do podcast promovido pelos Estúdios FOA. O material foi estruturado para contemplar, em Libras, cada uma das espécies presentes no local, respeitando as particularidades linguísticas da comunidade surda.
Pedro Alonso, além de integrante do projeto, também atua como coordenador de educação ambiental do zoológico, e traz uma perspectiva prática ao trabalho. “A vivência no zoológico permitiu identificar falhas na comunicação com o público e pensar estratégias realmente funcionais. Ter acesso aos sinais enquanto acompanhamos a visitação ajuda não só na inclusão, mas também na retenção dos conhecimentos sobre os animais e seus hábitos”, afirmou.
Um projeto interdisciplinar e replicável
Durante o desenvolvimento do roteiro, os alunos identificaram sinais oficiais ou criaram adaptações para espécies sem representação formal em Libras. Nesses casos, os estudantes trabalharam em conjunto com a professora Andrea Oliveira Almeida, intérprete de Libras e doutoranda em Educação, para criar combinações que fossem compreensíveis e coerentes com a lógica visual da língua de sinais. “Cada escolha foi feita com muito cuidado, respeitando a cultura surda e garantindo que a experiência fosse fluida e informativa”, destacou Andrea.
Segundo Luana, uma das preocupações centrais foi não apenas representar os animais em Libras, mas também garantir que as informações biológicas estivessem presentes de forma acessível. “Fizemos questão de incluir dados sobre habitat, alimentação e comportamento, tornando o guia uma verdadeira ferramenta de educação ambiental, e não apenas uma tradução de placas”, explicou.
O projeto foi orientado também pelo professor André Barbosa Vargas, doutor em Ciências Ambientais, que ressaltou o valor pedagógico da iniciativa. “Esse é um exemplo claro de como a universidade pode e deve incentivar práticas interdisciplinares, em que a ciência se articula com a inclusão e com a transformação social”, afirmou.
André ainda acrescentou que o roteiro pode servir de modelo replicável: “Há potencial para essa proposta ser adaptada em outros polos de visitação, ampliando o alcance da educação inclusiva”.
A proposta se alinha às diretrizes internacionais de inclusão e sustentabilidade. De acordo com organizações como a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), iniciativas que combinam comunicação acessível e educação sensorial contribuem significativamente para ampliar o interesse e o engajamento do público em causas ambientais. Dessa forma, o Zoológico de Volta Redonda não apenas cumpre seu papel institucional de preservação da fauna, como também assume o protagonismo na promoção de uma educação ambiental mais inclusiva e plural.
Expansão digital do Roteiro para Visitas Guiadas
O roteiro, que já está em fase de implementação no espaço físico do zoológico, também contou com a produção de vídeos educativos em Libras, disponibilizados no YouTube, com o objetivo de ampliar o acesso ao conteúdo para todo o Brasil. A expectativa é que esse material seja utilizado por escolas, centros culturais e outras instituições interessadas em práticas pedagógicas inclusivas, promovendo conhecimento e favorecendo a inclusão de pessoas surdas no universo da educação ambiental.
Com essa iniciativa, o UniFOA reafirma seu compromisso com a formação de profissionais éticos, inovadores e socialmente responsáveis. O guia prático em Libras é mais do que um recurso de acessibilidade: é um convite para enxergar o conhecimento como um direito universal e, sobretudo, uma forma de promover o respeito à diversidade em todas as suas dimensões.